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Bhikkhuni Sangha

Nos tempos de Siddhartha Gautama, a sociedade indiana permitia poucas oportunidades para que as mulheres participassem ativamente da vida espiritual e mesmo social. Apesar disso, o Buda elevou o status das mulheres concedendo-lhes uma posição mais significativa dentro da comunidade budista.

 

Uma das ações foi a criação da sangha feminina. Antes do surgimento do budismo, as mulheres não tinham acesso às ordens monásticas e eram excluídas da busca espiritual. O Buda percebeu a necessidade da equanimidade de gênero para o desenvolvimento espiritual de ambos os sexos e, após uma série de pedidos de sua madrasta, Mahaprajapati Gautami, ele finalmente concordou em estabelecer uma ordem monástica para as mulheres.

 

A criação da Bhikkhuni Sangha permitiu que mulheres renunciassem ao mundo secular e seguissem o caminho ascético, buscando a iluminação e a libertação do ciclo de sofrimento. As mulheres que se tornaram bhikkhunis tiveram a oportunidade de estudar os ensinamentos do Buda, praticar a meditação e progredir espiritualmente, assim como seus colegas monges.

As bhikkhunis eram autorizadas a pregar o Dharma e ensinar, assim como os monges, e eram consideradas iguais aos monges em termos de acesso aos ensinamentos e práticas espirituais. Isso representou uma mudança significativa em uma sociedade onde as mulheres eram geralmente relegadas a papéis secundários.

 

Além de estabelecer a ordem monástica feminina, o Buda tratava as mulheres com respeito e consideração. Ele estava disposto a ensinar e dialogar com mulheres de todas as origens sociais, desafiando as normas culturais da época. Várias discípulas do Buda alcançaram altos níveis de realização espiritual e são lembradas como mulheres notáveis dentro do budismo. Algumas das mais conhecidas são Mahapajapati Gautami, Khema, Uppalavanna, Patacara e Dhammadinna.

 

Mahapajapati Gautami, que foi madrasta e tia materna de Siddhartha Gautama, após suas interações incessantes com o Buda, tornou-se a primeira mulher a se tornar uma bhikkhuni após a criação da ordem monástica feminina.

 

Porém, é importante relembrar que a ordem monástica feminina enfrentou desafios e dificuldades em vários momentos de sua história. Algumas fontes, e também o empirismo, sugerem que ao longo dos séculos a Bhikkhuni Sangha foi afetada por problemas como falta de apoio, escassez de recursos, ações hostis de autoridades seculares e até mesmo escassez de mulheres interessadas em ingressar na ordem.

 

Há uma história sobre Khema, uma das principais discípulas citada acima.

Khema pertencera a uma família influente e abastada. No entanto, ela sentia-se insatisfeita com sua vida e ansiava por algo mais significativo, até ouviu falar no Buda Gautama e seus ensinamentos sobre o caminho da libertação do sofrimento e da iluminação.

Ela conseguiu se tornar uma bhikkhuni e dedicou-se completamente à prática espiritual e ao estudo dos ensinamentos do Buda. Sua sabedoria e compreensão do Dharma cresceram profundamente, e ela se tornou uma das principais discípulas femininas do Buda, conhecida por sua realização espiritual.

 

Porém, haviam alguns monges que estavam acostumados a sociedade patriarcal e sentiam dificuldade em aceitar uma mulher como sua igual no caminho espiritual. Eles viam a presença das bhikkhunis como uma ameaça às tradições da sociedade ou consideravam-nas inferiores aos monges.

Certa vez, durante uma reunião da comunidade monástica, Khema foi ignorada e não foi convidada a falar. Ela permaneceu em silêncio e deixou a reunião sentindo-se desrespeitada e invisível. No entanto, ela foi capaz de aproveitar essa experiência como oportunidades para praticar compaixão e paciência.

Mais tarde, quando o Buda soube do incidente, ele convocou uma reunião do Sangha, na qual repreendeu os monges que haviam tratado Khema com desrespeito e indiferença, relembrando-os da igualdade entre monges e monjas. O Buda deixou claro que as bhikkhunis também deveriam ser respeitadas e tratadas como iguais na comunidade monástica.

 

Outra bhikkhuni, a chamada Dhammadinna, ficou conhecida por sua erudição e habilidades em transmitir os ensinamentos do Dharma.

Um dia, Dhammadinna foi convidada a pregar o Dharma perante uma grande assembleia de monges, monjas e leigos. Ela falou com eloquência e sabedoria, transmitindo os ensinamentos de forma clara e profunda. Porém, alguns monges não se sentiram satisfeitos em ouvir uma mulher pregar o Dharma para eles, recusando-se a aceitar as palavras de Dhammadinna e questionando a validade de seus ensinamentos.

Diante dessa resistência, a monja não se deixou abater, permanecendo calma e paciente, respondendo com compaixão e sabedoria aos questionamentos dos monges, enquanto citava os ensinamentos do Buda para apoiar suas palavras e demonstrando a todos que a sabedoria transcendia as questões de gênero.

O Buda, ciente da situação, convocou outra assembleia para reconhecer a capacidade e habilidades de Dhammadinna. Ele elogiou a qualidade de suas pregações e confirmou que as palavras dela estavam em total conformidade com o Dharma. O Buda deixou claro que, independentemente de gênero, a sabedoria e a capacidade de transmitir os ensinamentos eram os critérios fundamentais para as monjas serem respeitadas como professoras espirituais.

 

Certa vez, uma bhikkhuni chamada Kisagotami estava caminhando pelas ruas de Savatthi, carregando seu recipiente de esmolas. Um grupo de pessoas maliciosas a viu e começou a fazer piadas e brincadeiras de mau gosto, zombando dela por ser uma monja. As crianças riam e a provocavam, desacreditando sua busca espiritual e chamando-a de nomes desrespeitosos.

Kisagotami permaneceu calma e compassiva diante das provocações, não reagindo com raiva ou ressentimento. Ao invés disso, continuou a andar com serenidade e dignidade.

Um dos discípulos do Buda, chamado Ananda, testemunhou a cena e se aproximou de Kisagotami, mas somente depois que as pessoas se dispersaram. Ele expressou sua preocupação com o comportamento das crianças e perguntou como ela estava se sentindo após ser tratada daquela maneira.

Kisagotami respondeu com uma sabedoria serena, compartilhando uma lição poderosa. Ela comparou as palavras e ações das pessoas com flores de lótus, dizendo que, assim como as flores de lótus permanecem intocadas e imaculadas mesmo crescendo em meio à lama, ela também permanecia inabalável em sua prática espiritual, mesmo enfrentando provocações e desrespeito.

 

Há relatos que, durante o antigo reinado de Anuradhapura, no Sri Lanka, por volta do século I a.C., a comunidade monástica budista, incluindo os monges e as monjas, estava enfrentando dificuldades devido a invasões estrangeiras e conflitos internos. O rei, influenciado por alguns conselheiros, começou a desacreditar as monjas e questionar sua legitimidade.

Os conselheiros do rei argumentavam que as monjas eram uma carga desnecessária para o reino, sugerindo que as bhikkhunis fossem desestimuladas ou mesmo sua existência dissolvida, para que seus recursos e propriedades pudessem ser alocados em outros setores considerados mais importantes pelo governo.

O rei, influenciado pelos conselheiros e sem o devido entendimento do valor e da importância da comunidade monástica feminina, concordou com a ideia e, consequentemente, emitiu um decreto que impôs várias restrições às monjas.

As bhikkhunis foram instruídas a abandonar seus monastérios e propriedades, sendo muitas foram forçadas a retornar à vida secular. No entanto, a Bhikkhuni Sangha continuou a existir em outras partes do mundo budista, e os ensinamentos e práticas espirituais das monjas foram mantidos vivos em diferentes regiões da Ásia.

 

As histórias dessas mulheres demonstram sua persistência e firmeza, e ainda reforçam que apesar das ações progressistas do Buda em relação às mulheres, mesmo budistas, a exemplo de praticantes de outras tradições espirituais e religiosas, não agem de maneira equânime, compassiva e empática.


 

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