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Budismo e Estoicismo

Apesar de se originarem em diferentes partes do mundo, o budismo e o estoicismo compartilham algumas semelhanças em suas crenças centrais, ao mesmo tempo em que há também diferenças significativas em suas crenças metafísicas e no conceito de si mesmo, do indivíduo.


Uma das semelhanças mais marcantes entre o budismo e o estoicismo é a ênfase na autoconsciência e no autocontrole. Ambas as filosofias acreditam que a verdadeira felicidade só pode ser alcançada pelo domínio das próprias emoções e desejos. Por exemplo, o filósofo estóico Epiteto ensinou que "nenhum homem é livre se não for senhor de si mesmo". Da mesma forma, o conceito budista de "Consciência Correta” enfatiza a importância de estarmos cientes de nossos pensamentos e emoções, sem sermos controlados por eles. Ambas as filosofias também defendem que é melhor nos esforçarmos para viver o momento presente, ao invés de ficarmos remoendo o passado ou nos preocupando demasiadamente com o futuro, de maneira que estes dois tempos se tornem uma prisão. Esse foco no momento presente é visto no conceito estóico de "carpe diem" e nas práticas budistas da Senda Reta de Oito Partes, mais especificamente nos caminhos “Compreensão Correta, “Consciência Correta” e “Meditação Correta”.


Outras semelhanças entre as duas filosofias: compartilham virtudes e éticas semelhantes, a importância da meditação e a impermanência da vida.


O estoicismo acredita na existência de uma mente ou alma racional separada do corpo, que é capaz de alcançar a sabedoria e a virtude, enquanto enfatiza a importância de reconhecer que todos fazemos parte de um todo maior. Essa ideia é vista no conceito estóico de "cosmopolitismo", que enfatiza a interconectividade de todos os seres humanos.

O budismo também aponta para a realidade da ligação entre os seres e ensina a inexistência de um “eu” permanente. Essa personalidade que chamamos hoje em dia de “eu” é vista como uma coleção de pensamentos, emoções e experiências em constante mudança. Isso se reflete no conceito budista de anatta (em pali; ou anatman em sânscrito) que pode ser traduzido como "não eu". O termo atman aparece em vários textos pali, derivado de attan, que pode significar alma, eu, essência ou substância. Essa compreensão de attan foi adotada pela cultura védica antes do budismo, onde atman era considerado a essência imutável e permanente de um ser vivo. Atman era visto como o "eu" duradouro e verdadeiro que passou por diferentes vidas. O Buda entendeu que atman revelava um entendimento não correto sobre a natureza do ser. Sendo a causa primária de todos os tipos de apegos e desejos e em consequência do constante sofrimento dos seres, concentrou seus primeiros ensinamentos em desenvolver uma doutrina que levasse à compreensão correta sobre esta natureza, afirmando o conceito de anatman.


Ambas reconhecem a importância de vivermos uma vida virtuosa, livre de comportamentos e pensamentos nocivos. Embora tanto o budismo quanto o estoicismo defendam a prática da virtude e da autodisciplina, diferem em sua abordagem do sofrimento. O estoicismo vê o sofrimento como uma parte natural da vida e defende a aceitação e o desapego como meio de lidar ele. Isso está exposto no conceito estóico de "amor fati", que se traduz em "amor ao destino" e encoraja os indivíduos a abraçar tudo o que a vida coloca em seu caminho. O budismo também ensina a importância do desapego; vê a dor como uma parte inerente da vida, mas o sofrimento e insatisfação como aspectos que podem ser mitigados, defendendo justamente a cessação do apego como um meio de acabar com o sofrimento e a insatisfação. Isso é visto nas “Quatro Nobres Verdades” reveladas pelo Buda Gautama.


As duas filosofias falam sobre a impermanência da vida. No entanto, o budismo leva essa crença mais adiante, apresentando a existência de múltiplas vidas através do ciclo de renascimentos. Os ensinamentos budistas apontam para o objetivo de romper com esse ciclo e de alcançar a iluminação. Em contraste, o estoicismo não acredita em vida após a morte ou reencarnação/renascimento.


Tanto budismo quanto estoicismo tratam da importância de assumirmos a responsabilidade pessoal por nossas ações e suas reações. O conceito estóico de "prohairesis" enfatiza a importância de se apropriar de seus pensamentos e ações, enquanto o conceito budista de karma nos demonstra que é favorável assumirmos a responsabilidade por nossas intenções e ações e suas consequências. As ações e intenções passadas são refletidas como karma no momento presente. A não compreensão das leis da natureza, em particular da impermanência – o não entendimento de que tudo é efêmero – e o apego aos desejos e seduções do mundo de ilusões no qual estamos inseridos gera a insatisfação, sentimentos de máculas e obstruções na vida. O karma apresentar-se-á um resultado de como o ser guia seus sentidos.


O Buda dedicou a sua vida à questão do sofrimento humano, sua compreensão e o aprendizado necessário para fazer cessar a dor. Sua intenção sempre foi pregar a felicidade nesta própria vida, não buscando resultados após a morte, mas sim, neste mundo mesmo.

A vida simples resulta da convicção de que é mais fácil reduzir ao mínimo os desejos e as necessidades, do que alcançar a sua satisfação, até mesmo porque à medida que se satisfazem os desejos estes crescem até o infinito.

Para o budista não interessa tanto a renúncia aos desejos, mas sim a consciência de que todos os bens e prazeres são dispensáveis.

Quando obtém essa consciência (quando atinge o estado búdico) o praticante do Budismo aceita a impossibilidade de realizar os desejos sem dificuldade e sem prejuízo da felicidade pessoal. Felizmente não é necessário que você se atenha à sublimação de todos os seus desejos para que consiga a felicidade (estado búdico); basta que transcenda o desejo das coisas possíveis e atingíveis.

Não lhe causa incomodo os males inevitáveis que atingem a todos, nem sequer os bens inatingíveis.

O que pode colocar empecilhos à sua felicidade são os males que você possa evitar e os bens que possa conseguir, de onde você pode concluir que a sua felicidade se baseia na proporção entre o que você quer e o que você consegue.



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