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A colher e a língua. O tolo e o perspicaz.

A colher mexe e remexe em pratos e panelas. Enquanto essa colher existe, ela tem contato com todas as formas de alimentos. A colher vira de um lado para outro e de diversas maneiras; com alimentos salgados, com alimentos doces, com toda a sorte de alimento.

O Buda nos lembra que, mesmo assim, a colher não sabe o sabor dos alimentos. Esta é uma apresentação pertinente do que acontece quando uma pessoa tola está junta a um sábio, mesmo que por toda a sua vida. Ela não obtém os benefícios dessa convivência.

Podemos entender como o tolo, aqui, aquele que vê e não observa. Aquele que ouve mas não escuta. Aquele que estuda mas não avança além da teorização. É como um papagaio, que apenas repete as palavras como ouviu.


Esta é a explicação para o verso 64 do Dhammapada.


Mesmo que por toda uma vida, o tolo

conviva com um sábio,

ele nunca compreenderá o Dhamma

tal como a colher não sente o sabor da sopa.


Já no verso 65, o Buda compara a pessoa perspicaz com a língua, porque a língua entra em contato com todos os tipos de alimento, assim como a colher, mas com a capacidade de discernir os sabores.


Mesmo que por um breve momento, o perspicaz

conviva com um sábio,

ele rapidamente compreenderá o Dhamma

tal como a língua sente o sabor da sopa.


O sábio, neste verso, pode ser entendido não com base nos estudos acadêmicos, ou na figura daquela pessoa que sempre consegue responder todas as perguntas que lhe fazem. Mas sim, a aquela pessoa que vive no presente, a pessoa que aprendeu com a vida em conjunto com os estudos. É a pessoa que manifesta a essência; e por isso que a prática de meditação é tão boa e importante; é para essa identificação, para compreensão e conscientização.

O sábio está consciente da efemeridade das coisas; pode acontecer de ele se contradizer, e está tudo bem com isso, porque ele sabe que tudo muda - as situações, os momentos, sentimentos e todas as outras coisas - e assim o sábio percebe essas mudanças.


Sabio não é quem sabe, é quem possui sabedoria; é aquele que sabe ver; o sábio é a pessoa autêntica.

Já o perspicaz aqui neste verso, é aquele que compreende que não sabe e que é observador. E ele observa o sábio, escuta o sábio; aprende e vive. Ele observa e descobre o caminho da sabedoria, compreendendo assim o dharma do Buda.


Pañña Sutta (SN LVI.63) – Sabedoria

Então, o Abençoado, tomando um pouco de terra com a ponta da unha, disse aos bhikkhus, “O que vocês pensam, bhikkhus? O que é maior: a pequena quantidade de terra que tomei com a ponta da unha ou o grande planeta terra?”

“Venerável senhor, o grande planeta terra é muito maior. A pequena quantidade de terra que o Abençoado tomou com a ponta da unha é quase nada. Comparado ao grande planeta terra, essa pequena quantidade de terra não é calculável, não tem comparação, não representa nem uma fração.”

“Assim também, bhikkhus, aqueles seres que possuem o nobre olho da sabedoria são poucos. Mas aqueles seres que estão imersos na ignorância e confusos são mais numerosos. Por qual razão? Porque, bhikkhus, eles não viram as Quatro Nobres Verdades. Quais quatro? A nobre verdade do sofrimento, a nobre verdade da origem do sofrimento, a nobre verdade da cessação do sofrimento, a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento.

“Portanto, bhikkhus, um esforço deve ser feito para compreender: ‘Isto é sofrimento.’ Um esforço deve ser feito para compreender: ‘Esta é a origem do sofrimento.’ Um esforço deve ser feito para compreender: ‘Esta é a cessação do sofrimento.’ Um esforço deve ser feito para compreender: ‘Este é o caminho que conduz à cessação do sofrimento.’”



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