5
Porque o ódio não cessa pelo ódio: o ódio cessa pelo amor. Esta é uma lei eterna.
6
Há os que não percebem que nós teremos um fim nesse mundo, mas aqueles que percebem isso têm suas desavenças apaziguadas e buscam viver em harmonia.
O quinto verso nos apresenta de forma muito clara que não é através de mais brigas que cessam as brigas, que não há o fim da guerra com outras guerras.
Uma tradução do texto pali ao pé da letra, não uma interpretação, nos apresentará "raiva é apaziguada pela não-raiva", ou “ódio é apaziguado pelo não-ódio”.
Retribuir agressão, hostilização e ódio com essas mesmas atitudes não as leva à cessação. Somente através da atitude antagônica, que é o amor, através do perdão e esquecimento, do cultivo da amizade e da compaixão, que alcançamos a harmonia.
Sendo o ódio um rancor profundo e duradouro que se sente por outra pessoa, só pode o ódio aumentar
quando combatido com ele mesmo.
Assim como uma ferida aberta é curada fechando-a, o remédio para o ódio é seu antônimo: o amor.
A luta do ódio contra o ódio envenena os sentidos e o corpo.
O indivíduo que percebe essa condição e combate o ódio com o amor sente o que se expressa como “alma limpa”, “mente limpa” ou “paz de espírito”.
Este indivíduo segue sua vida no contentamento do coração apaziguado e coberto com o manto da compaixão e da tranqüilidade.
Já no sexto verso, há a apresentação de algo essencial à prática do Budismo: examinar a realidade da morte e da impermanência. A fuga da realidade e a entrega às emoções geram sofrimento.
As emoções exacerbadas entram em conflito com a realidade, pois acortinam a visão para a necessidade do desapego. Ter em mente a realidade da morte encerra essas emoções, o que chamamos de Os Cinco Venenos: raiva/ódio, orgulho/ego, desejo/luxúria, inveja/ciúmes, ignorância/desilusão.
A consciência da realidade da mortenos coloca a viver no hoje, no agora, onde é realmente unicamente possível viver. Já a inconsciência dessa realidade pode acabar por fazer com que a pessoa negligencie o cultivo de virtudes, a faz se enredar em discórdias e conflitos (o que infla o ego ou causa desapontamento por aspirações destruídas) e, por vezes, faz com que a pessoa adie as coisas que pode realizar (leva a procrastinação), sendo
que essas coisas podem acabar por não serem realizadas.
Acompanhe um trecho do comentário deste verso feito pelo monge srilankês Sarada Maha Thero: _"O Buda disse essas palavras para fazer surgir uma sensação de insatisfação nas pessoas cegas e ignorantes, para apaziguar os tormentos do sofrimento causados pela separação de pais e filhos e da riqueza e prosperidade, para inculcar a doutrina da impermanência em todos os seres, e assim convencê-los da insatisfação da vida, e direcioná-los para a realização da eterna paz. Uma pessoa que não compreendeu a doutrina do Buda está apaixonada pela vida longa e se considera imortal, mesmo que ela veja muitas mortes ao seu redor; está apaixonada com a boa
saúde e se considera livre das doenças, mesmo que veja incontáveis pessoas doentes ao seu redor; está apaixonada pela juventude apesar de ver muitas pessoas velhas, e se considera não sujeita ao envelhecimento; está apaixonada com a riqueza e prosperidade apesar de ver incontáveis pessoas destituídas devido à perda de riqueza; e ela nunca pensa, por um momento sequer, que também está
sujeita a tais situações.”_
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