O dia do filósofo é 16 de agosto, quando escrevo este pequeno texto.
A filosofia pode desempenhar um papel determinante no dia-a-dia, na busca pelo que se pode considerar o mais próximo da verdade.
A ideia é não confina-la a apenas uma disciplina acadêmica, mas tê-la como uma prática contínua de questionamento e autoexame, uma ferramenta para o crescimento espiritual e intelectual.
O filósofo não se contenta com respostas superficiais; ele mergulha nas profundezas do ser, explorando os mistérios da existência, da natureza da mente e do propósito da vida.
Ser filósofo é compreender a filosofia é ser também um praticante de virtudes como a humildade, a paciência e a compaixão - qualidades estas fundamentais para a compreensão plena e para o cultivo da sabedoria verdadeira.
O filósofo, em sua jornada, aprende a desapegar-se das suas certezas e a observar o mundo com a mente aberta, consciente de que a realidade está em constante transformação.
No contexto budista, eu relaciono a filosofia com a prática do discernimento e a importância de observarmos a natureza impermanente de todas as coisas, inclusive de nossas supostas convicções. A filosofia budista nos ensina a olhar profundamente para a impermanência e para o vazio inerente a todas as formas e fenômenos, reconhecendo que o apego a ideias fixas e a identidades rígidas é fonte de sofrimento.
Utilizar essa ferramenta de forma favorável - a filosofia budista - nos conduzirá à redução (quiçá à libertação) do sofrimento e ao despertar da consciência, não apenas ao acúmulo de conhecimentos teóricos e histórias bonitas de autoajuda para postar nas redes sociais.
Considere uma situação comum: você está no trânsito, atrasado para um compromisso importante, quando súbito um motorista imprudente corta sua frente de maneira perigosa. O que acontece dentro de você? A reação automática, muitas vezes, é de raiva ou frustração. A mente começa a formular pensamentos de julgamento e condenação.
Neste momento, podemos aplicar o discernimento budista: Ao invés de reagir impulsivamente, respire profundamente e reconheça a impermanência dessa experiência. O que está sentindo, seja raiva ou frustração, é passageiro, assim como a situação em si. Observe o pensamento de raiva como um fenômeno que surge na mente, mas não se apegue a ele. Ao praticar a paciência e a compaixão, poderá refletir: talvez aquele motorista esteja enfrentando suas próprias dificuldades, assim como eu. Será que esse momento de raiva realmente me traz benefício? Será que ele contribui para meu bem-estar ou para o bem-estar dos outros?
Ao trazer essa reflexão para o momento presente, somos capazes de transformar nossa reação. Em vez de alimentarmos a raiva, escolhemos a serenidade. Podemos até enviar mentalmente um desejo de bem-estar para aquela pessoa, um gesto simples que transforma nossa energia interna de reatividade para compaixão. Esse é o poder da filosofia budista aplicada no cotidiano - ela nos ensina a pausar, refletir e agir de acordo com princípios que promovem a paz interior e a harmonia externa.
O Dia do Filósofo é uma oportunidade para todos nós refletirmos sobre nossas próprias vidas, nossas crenças e nossas práticas, bem como na maneira a qual elas podem ser harmonizadas com um caminho em direção a uma existência iluminada, desperta, realizada.
A filosofia e a filosofia budista, quando verdadeiramente vividas, transformam a nossa maneira de ser e de ver o mundo. Elas nos convidam a um constante processo de renovação e crescimento, ajudando-nos a cultivar a sabedoria interior que transcende as palavras e os conceitos.
Logo, no Dia do Filósofo (e que tal repetir a cada dia?), que possamos renovar nosso compromisso com a busca pela clareza da mente e da verdade, não apenas através do intelecto, mas também pelo coração e pela prática. Que possamos integrar a filosofia em nossa vida como uma forma de nos tornarmos mais conscientes, compassivos e despertos, contribuindo para a criação de um mundo onde a sabedoria e a compaixão caminhem de mãos dadas. Cada pequena ação, quando guiada por discernimento e compaixão, pode se tornar um passo significativo em direção a uma existência mais iluminada e mais próxima da realização espiritual.
Ótimo artigo!!! 🙏
Up
Excelente artigo, isso me faz lembrar do dia que eu estava dirigindo meu carro e tive de frear (mas com toda a segurança sem oferecer riscos ao tráfego) por conta de um cachorro que se interpôs no meu caminho, mas me retardou o suficiente para não sofrer uma batida mais adiante se eu mantivesse meu ritmo "normal".
me inspirou a refletir sobre o que acontece no dia a dia. obrigada.